
Por Aline dos Santos
Nem coxinhas nem petralhas, nem apocalípticos nem integrados. O mundo se divide entre os que amam e os que não entendem os rios. E é nessa primeira classe que se encontra a mãe, personagem do romance Um Rio, Uma Guerra, – o novo livro de Luiz Taques (Kan Editora, 112 páginas).
Compreensível, então, que se banhar no rio seja o melhor presente e único pedido de uma aniversariante de nove de fevereiro de um ano qualquer. E pelas águas vêm os murmúrios do passado. Do rio – esse ser talhado para ser eterno, mas nunca o mesmo – brotam lembranças da guerra e suas mortes, da guerra e seus abusos, da guerra e a miséria humana.
Mas longe do caudaloso rio de fronteira, são as águas íntimas da relação filho e mãe que mais ameaçam. Elas falam de saudade, de pessoas que viram retratos, do tempo que avança sobre o que se tem de mais amado, das lembranças que oxigenam o presente. Uma narrativa construída com lirismo, sem afetação, na linha tênue da dor e da delícia, onde cada palavra só poderia estar onde a encontramos.
O autor vem se dedicando a ser relativo de águas. Também há um rio em Pedro. Mas naquela ficção, naquele primeiro romance de Luiz Taques, ele vem a ser o único vivente numa cidade interiorana, esquecida e com a marca da ausência. Sinal de que na literatura de Taques, rio e pessoas se cruzam em suas profundezas.
Aline dos Santos é poeta e jornalista.
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